segunda-feira, 13 de junho de 2011

Fome oculta: falta de nutrientes essenciais


Chamamos de Fome Oculta aquela que não vemos na aparência do que se ingere no dia a dia. Hoje, as pessoas consomem alimentos sem se preocuparem, por exemplo, se são ricos em vitamina A, ou ferro, ou se existe iodo para a tireóide. No entanto a falta permanente dos chamados micro-nutrientes essenciais leva a sérios distúrbios em várias áreas do nosso organismo. Sabemos, por exemplo, que os navios da época dos descobrimentos (séculos 15 e 16) não podiam armazenar frutas e legumes frescos, ricos em vitamina C. Seus marujos tinham com frequência o escorbuto, com sangramento de gengivas, queda de dentes, e outros males para o organismo. Mais tarde, já no século 19 identificaram-se anemias devidas a falta de ferro, alterações do sistema neurológico por falta de iodo e bem mais tarde, já no século 20, as alterações em nosso corpo devido à falta de vitamina D, do ácido fólico e de zinco, selênio e outros minerais.

Aspectos gerais da deficiência de vitamina A
A vitamina A, também conhecida como ácido retinoico ou mais exatamente como um grupo químico chamado de retinoides é encontrada em abundância no fígado (bovino, caprino, suíno) na gema de ovo, no leite integral. Os pigmentos naturais de cor laranjada chamados de carotenos se encontram em cenoura, brócoli, espinafre e em frutas muito conhecidas como tomate, mamão e papaia. Os carotenoides são considerados como precursores da vitamina A, sendo transformados nesta importante vitamina dentro do nosso metabolismo diário.

A vitamina A é muito importante para a função visual, pois é essencial para a síntese da substância conhecida como rodopsina que é parte integrante dos elementos de nossa retina. A falta de vitamina A leva a cegueira noturna ou perda da visão durante a noite, além de várias lesões da retina (constituindo um conjunto de doenças da visão). Além disso, a deficiência da vitamina A altera a capacidade reprodutiva da mulher, com abortos espontâneos e alterações no fígado do recém nascido.

A vitamina A é essencial para o crescimento e desenvolvimento da criança, desde o período fetal até a adolescência. No adulto a vitamina A tem excelente poder antioxidante isto é, de combater radicais livres (perniciosos para o metabolismo celular). Infelizmente a deficiência de vitamina A atinge mais de 250 milhões de habitantes no nosso planeta e a Organização Mundial de Saúde tem programas específicos para sanar esta deficiência especialmente em gestantes.

A falta de ferro e a anemia crônica
Apesar do imenso desenvolvimento dos nossos conhecimentos sobre Fome Oculta, a deficiência de ferro e a anemia crônica atinge 2 bilhões de pessoas no mundo inteiro, sendo a doença carencial mais prevalente ao lado da deficiência de iodo.

É óbvio que a falta de ferro está associada à miséria e às condições sanitárias sub humanas, com falta de nutrientes adequados. O ferro faz parte do pigmento vermelho que existe na célula sanguínea chamada hemácia ou glóbulo vermelho. A hemoglobina, basicamente constituída por ferro, transporta o oxigênio vindo dos pulmões para todos os tecidos do corpo. No caso de não haver ferro não se sintetiza a hemoglobina e surge a anemia (chamada de ferropriva). A falta de oxigenação eficiente dos nossos órgãos afeta muito a vida fetal. Além disso, a falta de ferro leva ao grave problema de recém-nascidos anêmicos, com pouca probabilidade de vida. Por outro lado os escolares anêmicos têm dificuldade para estudar, para aprender, com grande evasão escolar, e baixa produtividade intelectual.

No Brasil o combate à fome oculta do ferro é realizada de várias maneiras. Uma delas é utilizar tecido bovino, rico em ferro, dessecado (isto é, transformado em pó) adicionando-o a um biscoito de boa palatabilidade. O biscoito enriquecido com ferro é distribuído a escolares fornecendo o indispensável ferro e evitando a anemia.

A falta de iodo causa dano á gestante
Na medicina chinesa, séculos antes da nossa era, os médicos receitavam extrato de esponjas marinhas (que hoje, sabemos que têm muito iodo). Mas a deficiência de iodo é altamente prevalente nas áreas montanhosas do planeta. Nos Alpes e nos Andes, na Indonésia, na Índia e na China a falta de iodo induzia a ‘bócio’ – a tireóide ficava aumentada de volume, formando o que popularmente se chama ‘papo’.
Mas o maior problema da falta de iodo é a repercussão negativa na formação do cérebro fetal. Desde que a gestante não receba o mínimo de iodo por dia o cérebro fetal pode ser cerca de 30% menor do que o normal. A criança terá o que se chama de disfunção cerebral mínima para grave, com possibilidade de debilidade mental, má-escolaridade, formando um conjunto de indivíduos adultos inaptos ao trabalho e de baixas condições sócio econômicas. Apesar de todos os esforços da Organização Mundial de Saúde cerca de 2 bilhões de pessoas ainda vivem em condições de carência de iodo. A adição de iodo ao sal destinado ao consumo humano é a grande solução para este problema de ‘fome oculta’

Por Geraldo Medeiros - Veja.com

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