domingo, 30 de janeiro de 2011

Veias e artérias também sofrem


Pesquisas mostram relação entre ruídos com problemas para dormir e até derrame
Diego Junqueira, do R7

Dor, irritação, tontura, desconforto, estresse e aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial. Nos casos mais graves, crescem as chances de problemas cardiovasculares, como infarto do miocárdio e derrame cerebral. Todas essas doenças podem ser consequências de um problema do qual dificilmente as pessoas se protegem no dia a dia: a exposição ao barulho.

O som dos carros, motos, máquinas de obras e aparelhos que tocam música não trazem problemas apenas para o aparelho auditivo. Quando uma pessoa se expõe a um ruído muito alto durante um longo período de tempo, seu sistema circulatório também sofre as consequências. O ritmo do coração acelera, o organismo bombeia mais sangue e a pressão sobe.

Por causa desse estresse, o corpo abre as portas para uma série de outros problemas. Um estudo feito na Dinamarca mostrou que o tráfego barulhento aumenta as chances de uma pessoa sofrer derrame. Já uma pesquisa, realizada em Israel, demonstrou a relação entre o barulho e dificuldades para dormir.

De acordo com o neurofisiologista da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), Fernando Pimentel-Souza, nos níveis de exposição altos, há mais produção do cortisol, hormônio liberado em situações de estresse que provoca reações inflamatórias e pode aumentar a circulação. Segundo o especialista, esses fatores podem até acelerar o aparecimento de um câncer.

- O câncer começa com pequenas sementinhas de tumores, que são alimentados pela circulação sanguínea. Às vezes a pessoa não tem um tumor visível, mas latente. As chances de esse tumor aparecer ficam maiores por causa do aumento da circulação.

Segundo o médico Daniel Okada, otorrinolaringologista da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial, alguém que já é hipertenso, que teve problemas na coronária ou que já sofreu um AVC (acidente vascular cerebral) tem uma chance maior de apresentar outros problemas cardiovasculares.

- O barulho piora a qualidade de vida do sujeito, causa irritabilidade, faz ele dormir mal, dificulta a concentração no trabalho e nos estudos.

Pimentel-Souza explica que o estresse causado pela poluição sonora é uma agressão para o organismo, deixando o corpo em estado de alerta, como um mecanismo de defesa.


- O organismo não sabe a origem do ruído, ele não consegue encontrar. O corpo, então, começa a se preparar para um ataque iminente.

As situações de risco

De acordo com o neurofisiologista da UFMG, quando uma pessoa está acordada, ela já começa a sofrer estresse leve quando é exposta a uma intensidade de 55 decibéis. Acima de 65 decibéis ela sofre estresse forte e, acima de 75 decibéis, o estresse é degenerativo, ou seja, começa a causar danos ao ouvido.

O nível de audição que o ouvido humano pode suportar, segundo a Associação brasileira de Otorrinolaringologia, é de 90 decibéis. O som produzido por um helicóptero, por exemplo, pode chegar a 97 decibéis. Já o de uma motosserra atinge 100 decibéis.

Segundo o médico Arthur Castilho, otorrinolaringologista do Hospital Bandeirantes, para que a pessoa venha a sofrer algum dano, ela precisa ficar exposta ao ruído durante muito tempo.

- Você pode ficar exposto a 85 dB por oito horas. A 90 dB, você pode ficar quatro horas, e assim por diante. A cada 5 dB, o tempo limite cai pela metade.

Para Castilho, no entanto, os principais vilões dos ruídos são os aparelhos que tocam música.

- O trânsito é ruim no sentido de aumentar o estresse, mas não chega a uma intensidade grande. Você não fica exposto muito tempo. Hoje, a maior preocupação são os iPods e mp3 Isso é o mais grave. A pessoa escuta com o fone no ouvido, e fica exposta muito tempo.

Castilho lembra ainda que o volume não precisa ser alto para causar irritação.

- Às vezes pode ser uma goteira, caindo lentamente. O que muda é o estresse gerado pelo som de má qualidade e a influência disso no estresse.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário