sábado, 18 de dezembro de 2010

Própolis: o ouro verde da medicina

 

Resina produzida pelas abelhas é estudada como remédio para diversas doenças

Chris Bertelli, iG São Paulo

Foto: Getty Images
Abelhas fabricam uma das mais poderosas armas com diversas doenças: a própolis
Câncer, incontinência urinária, cáries, sapinho, inflamações. O tratamento para todos esses problemas pode estar em um composto natural encontrado em abundância no Brasil: a própolis. Essa resina produzida pelas abelhas a fim de proteger a colmeia pode ser também um poderoso escudo para a saúde humana.
A substância produzida no Brasil ganhou fama internacional por sua qualidade e já é destaque nos mercados japonês e europeu. “Assim como um bom relógio é suíço, e uma boa salsicha é alemã, a melhor própolis é brasileira”, diz o diretor da Sociedade Brasileira de Apiterapia, José Alexandre.
A afirmação é confirmada pelo químico alemão Andreas Gausch, especialista no assunto, que há 10 anos veio ao Brasil, se encantou com as possibilidades do produto e decidiu ficar para dar andamento a suas pesquisas no País. “O Brasil tem uma das mais ricas biodiversidades do planeta”, diz.

Um estudo desenvolvido pela Universidade de Campinas (Unicamp) classificou a própolis brasileira em 13 tipos, que variam conforme a cor, a composição e a consistência. As pesquisas com essa resina no País já têm mais de 15 anos, tempo em que se confirmaram suas propriedades anti-inflamatória, analgésica, anticancerígena e moduladora da imunidade.
Na natureza, a própolis funciona como um sistema imunológico externo, protegendo a colmeia de doenças, combatendo bactérias, fungos e vírus. A grande sacada dos pesquisadores foi perceber que esses benefícios poderiam ser aplicados também em prol da medicina.
“As substâncias ativas da própolis estão sendo estudadas intensamente e, tenho certeza, isso levará ao desenvolvimento de novos medicamentos. Investir mais ainda na pesquisa interna é o meio essencial para tornar esta visão uma realidade" diz Gausch.

Câncer
Os japoneses descobriram – e patentearam – o efeito anti-cancarígeno da própolis verde, encontrada no alecrim do campo ou vassourinha. A principal substância responsável por este efeito é conhecida como Artepillin C.
“Uma das atividades biológicas que este composto apresenta é a indução da morte das células cancerígenas sem afetar as células normais”, afirma Andreas Gausch.
Uma anomalia ainda desconhecida faz com que as células cancerígenas se multipliquem ininterruptamente, formando os tumores. “A própolis ensina essas células a morrer, ou seja, é uma forma de tratamento muito promissora, sem efeitos colaterais como os apresentados na quimioterapia”, explica Gausch.
Novos estudos descobriram que a mesma substância também está presente na própolis vermelha, originária de uma planta conhecida como rabo-de-bugio, encontrada no nordeste do Brasil. Diversos países estudam uma forma de transformar essa propriedade em um remédio que possa ser comercializado.

Sapinho e cáries
Creme dental e enxaguatório. A dupla feita à base de própolis promete trazer proteção extra contra as cáries e inflamações bucais. “O produto também ajuda na cicatrização de microlesões na gengiva. Já foi patenteado e estamos em negociação com as indústrias farmacêuticas”, afirma Niraldo Paulino, coordenador do grupo de Pesquisa e Desenvolvimento de Biomedicamentos da UNIBAN, em São Paulo. A previsão é que o produto esteja disponível para a população em 2012.
Um estudo realizado pelos alunos do curso de odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) colheu saliva de 30 pessoas e detectou a presença de um bilhão de microorganismos em cada amostra. Durante 15 dias, essas pessoas utilizaram um gel e um enxaguatório bucal feito a base de própolis. A análise final demonstrou que o número de microorganismos caiu para 100 mil.
Outra pesquisa, também da UFMG, tentou identificar a eficácia da substância no tratamento do sapinho em comparação com antibióticos tradicionais. O resultado, depois de 10 dias de tratamento, foi impressionante. Do grupo que utilizou a própolis, 90% estavam curados. Todos do outro grupo tiveram que continuar com a medicação.

Inflamações
Quem nunca se rendeu ao spray vendido em farmácias para acabar com aquela dor de garganta? Uma das características mais conhecidas dessa resina é sua propriedade anti-inflamatória. No entanto, os especialistas recomendam cuidado ao comprar o produto pedindo atenção à composição e ao fabricante.

Incontinência urinária

A pesquisadora Miriam Dambros, da Unicamp, extraiu da própolis a galangina, um tipo de flavonóide que, ao ser aplicado na bexiga, melhorou o desempenho desse órgão. Quando injetado em baixas doses, houve melhora na capacidade de contração e quando aplicado em altas doses, de relaxamento. A substância, dessa forma, está sendo estudada como uma alternativa no tratamento da incontinência urinária.

Leishimaniose

Uma nova droga que tem como base o extrato de própolis está sendo testada no Instituto de Biologia da Unicamp contra a leishimaniose, doença que atinge 30 mil brasileiros por ano. A substância, que por si só já tem propriedades antibactericidas, reduziu o número de parasitas em culturas celulares. As pesquisas estão sendo realizadas com animais.

Obesidade, diabetes e hipertensão
A Escola de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP em Piracicaba, anunciou este ano a descoberta da substância conhecida como CAPE, extraída da própolis, e seu potencial antioxidante. Essa propriedade faz com que a CAPE seja eficaz no combate à formação de radicais livres associados à obesidade e a doenças como o diabetes e a hipertensão. As pesquisas iniciais foram realizadas em animais e a substância foi tese de mestrado da pesquisadora Aline Camila Caetano.

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