sábado, 23 de outubro de 2010

O fenômeno Maria Lenk

Maria Emma Hulga Lenk Zigler (São Paulo, 15 de janeiro de 1915 — Rio de Janeiro, 16 de abril de 2007) foi a maior nadadora brasileira em todos os tempos. A única mulher brasileira no Swimming Hall of Fame em Fort Lauderdale na Flórida. Filha de imigrantes alemães que vieram ao Brasil em 1912, Maria Lenk foi a primeira nadadora brasileira a estabelecer um recorde mundial e deu ao Flamengo diversos importantes títulos.

Nadava desde os primeiros anos da introdução das competições no Brasil, participando das provas ainda em mar aberto. Tudo começa com uma pneumonia dupla. Depois do susto, os pais acham que a natação faria bem à saúde da filha de 10 anos. Na ausência de piscinas, a paulistana Maria Lenk tem de dar suas primeiras braçadas no Rio Tietê. Em 1925, o rio não é o esgoto a céu aberto de hoje.

Aos dezessete anos, já era uma atleta de nível internacional. Foi a primeira mulher sul-americana a competir em Olimpíadas, nos Jogos de Los Angeles, em 1932. Maria junto com outros 68 atletas da equipe brasileira custearam a viagem para competir nas Olimpíadas de Los Angeles vendendo o café que levaram no porão do navio.

"O que valia era o conceito do amadorismo. Eu competi com um uniforme emprestado, que tive de devolver quando as provas acabaram", lembra.

Não conseguiu ganhar medalhas em Olimpíadas, mas é considerada pioneira da natação moderna, foi responsável pela introdução do nado borboleta, quando o nadou nas Olimpíadas de 1936 em Berlim, em uma prova de peito.

Nos Jogos seguintes, realizados em Berlim, em 1936, estava de volta, desta vez acompanhada por mais três nadadoras. No ano de 1939, durante a preparação para os Jogos Olímpicos de Tóquio, quebrou dois recordes mundiais individuais, nos 200m e 400m peito, a primeira e única brasileira a fazê-lo.

O recorde dos 400m peito, 6min15s80, foi registrado no dia 11 de outubro daquele ano, na piscina do Botafogo. No mês seguinte, Lenk nadou 2min56s90 na piscina do Fluminense.

Os planos para os Jogos de 1940 tiveram de ser interrompidos por ocasião da Segunda Guerra Mundial, gerando uma grande decepção. Ela era a grande favorita a ganhar a primeira medalha de ouro olímpica de mulheres brasileiras em esportes individuais. Tal feito só foi realizado 68 anos depois pela saltadora Maurren Maggi, nos Jogos Olímpicos de Pequim.

Em 1942 ajudou a fundar a Escola Nacional de Educação Física da Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro. Era também membro vitalício da Sociedade Americana de Técnicos de Natação.

No início dos anos 40, é a única mulher da delegação de nadadores sul-americanos que excursiona pelos EUA. Maria Lenk quebra doze recordes norte-americanos e aproveita sua estadia para concluir o curso de Educação Física na Universidade de Springfield.

Em 1942, abandona a carreira e ajuda a fundar a Escola Nacional de Educação Física, da Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro.

Apesar dos feitos, Maria Lenk foi uma personagem contraditória. Ao mesmo tempo que muitos a viam como uma pioneira, outros tinham muitas restrições, pois Lenk possuía uma personalidade muito forte e foi uma professora de atitude muito séria e rígida diante dos alunos e colegas de trabalho.

Maria Lenk foi muito criticada por manter vínculos com alguns governos ditatoriais como o de Getúlio Vargas no Estado Novo e os posteriores ao Golpe Militar de 1964.

Ainda hoje detém diversos recordes mundiais de masters, entrando para o Hall da Fama da Federação Internacional de Natação (FINA) em 1988, quando foi homenageada com o Top Ten da entidade máxima do esporte por ser um dos dez melhores nadadores master do mundo.

No campeonato mundial da categoria 85-90 anos, realizado em agosto de 2000, ela voltou de Munique com cinco medalhas de ouro! Maria Lenk foi a campeã dos 100 m peito, 200 m livre, 200 m costas, 200 m medley e 400 m livre.

Nesse torneio, ela ganhou o apelido de Mark Spitz da terceira idade, uma referência às sete medalhas de ouro que o nadador norte-americano ganhou na Olimpíada de Munique, em 72.

Em 2003, após três anos de pesquisas, lançou o livro Longevidade e Esporte, que mostra os benefícios trazidos pela prática de esportes. Até os últimos dias de vida nadava cerca de 1.500m / dia.


Em 13 de janeiro de 2007, a prefeitura do Rio de Janeiro publicou decreto do executivo municipal dando o nome de Maria Lenk para o Parque Aquático do Jogos Pan-americanos de 2007.

Maria Lenk faleceu aos 92 anos de idade, por parada cardiorrespiratória, após exercitar-se na piscina do Clube de Regatas Flamengo.

Viúva e mãe de um casal de filhos - Gilbert e Marlen -, Maria Lenk deixou ainda dois netos.

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