quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Enxaguante bucal especial melhora o desempenho em exercícios, diz experimento

Cientistas que estudam exercícios dizem ter topado com uma descoberta impressionante.

Atletas podem aprimorar seu desempenho em sessões intensas de exercícios, com cerca de uma hora, simplesmente enxaguando a boca com uma solução de carboidrato, como a maltodextrina - um derivado de amido sem sabor - e nem é mesmo preciso engolir o conteúdo para se obter os benefícios. Contudo, devem ser usados carboidratos de verdade, pois foi constado que adoçantes artificiais não surtem efeito.

Como isso funciona

Parece que o cérebro consegue sentir carboidratos na boca, mesmo aqueles sem sabor. Os sensores são diferentes daqueles para o doce, e estimulam o cérebro a responder, incitando o atleta.

Muitos atletas dependem de bebidas açucaradas para mantê-los em movimento, porém, muitas vezes, quando o sangue é desviado do estômago para os músculos trabalhando durante exercícios intensos, bebidas ou alimentos causam cãibras estomacais.

Assim, um enxaguante de carboidratos pode ser uma forma de obter o mesmo efeito.

"Você pode obter vantagem ao enganar seu cérebro", disse um descobridor do efeito, Matt Bridge, professor de ciência de treinamento e esportes na Universidade de Birmingham, na Inglaterra.

"Seu cérebro diz ao corpo: Carboidratos estão a caminho". Com essa mensagem, músculos e nervos se preparam para trabalhar com mais força e por mais tempo.

É um efeito relativamente pequeno, afirmou George A. Brooks, pesquisador de exercícios da Universidade da Califórnia, em Berkeley, que não estava envolvido na pesquisa.

Mas uma pequena diferença, segundo ele, "pode fazer uma enorme diferença numa competição".

Inicio da descoberta

A descoberta teve início com algumas revelações intrigantes, na década de 1990. Até então, cientistas do exercício pensavam saber por que era indicado comer ou beber carboidratos durante um evento de longa duração, como uma maratona.

Os músculos podem usar seu glicogênio, a forma de armazenamento da glicose, durante sessões longas de exercícios. Porém, se os atletas consomem carboidratos, eles podem proporcionar uma nova fonte de combustível para seus músculos famintos. Essa teoria previa que os carboidratos não surtiriam efeito de desempenho em corridas mais curtas, de uma hora ou menos.

Os músculos não conseguiriam esgotar seu glicogênio tão rápido, e quando o corpo metabolizasse os carboidratos pelo combustível, a corrida já estaria quase terminada. Apareceram, então, um punhado de estudos mostrando que os carboidratos davam resultado em sessões mais curtas de exercícios.

Atletas, muitas vezes ciclistas treinados, pedalavam com mais força e velocidade por uma hora após tomarem ou uma bebida contendo carboidratos, ou uma que tinha o mesmo sabor mas continha um adoçante artificial.

Em sessões intensas de exercícios durando mais de meia hora, os atletas eram capazes de atingir maiores velocidades - ou manter o exercício por mais tempo - quando haviam bebido a solução com carboidratos.

Seu desempenho melhorava até 14%.

Alguns estudos, porém, não encontraram nenhum efeito.

E a diferença parecia ser que os atletas com fome demonstravam um desempenho aprimorado e isso, para os pesquisadores, não fazia sentido.

Novas pesquisas

Poderia o corpo, de alguma forma, metabolizar os carboidratos nas bebidas e colocá-los em uso em tão pouco tempo? Será que os músculos chegavam a precisar de carboidratos em sessões tão curtas de exercícios? Asker Jeukendrup, fisiologista de exercícios da Universidade de Birmingham, e colegas, resolveram testar essa ideia.

Eles estavam entre os primeiros pesquisadores a descobrir um efeito de carboidratos em ciclistas pedalando por uma hora, e haviam ficado intrigados a respeito do motivo para isso acontecer.

Assim, eles deram a ciclistas profissionais infusões intravenosas de glicose ou, como grupo de controle, intravenosas de água com sal, antes de pedir-lhes que pedalassem o mais rápido que pudessem por aproximadamente 24 milhas, cerca de uma hora.

A glicose intravenosa significava que os atletas tinham grandes quantidades de açúcar disponível instantaneamente - sem a necessidade de digestão.

Mas isso não teve efeito em seu desempenho Em seguida, tentaram o que parecia ser uma ideia louca.

Eles pediram que os ciclistas fizessem o mesmo percurso, mas que antes enxaguassem a boca com a solução de maltodextrina (ou, como controle, com água).

"Os resultados foram incríveis", escreveram os pesquisadores. Enxaguar a boca com carboidratos surtia o mesmo efeito que bebê-los.

Outros cientistas repetiram o experimento.

Dos ciclistas para os corredores

Um grupo de pesquisadores resolveu aplicar os testes com corredores, pedindo que corressem por 30 minutos ou, em outro estudo, 60 minutos e enxaguar a boca com carboidratos os levava consistentemente a correr mais longe, em comparação com o grupo do placebo.

Jeukendrup e seus colegas continuaram ajustando as condições do estudo.

O que aconteceria, eles perguntaram, se os atletas comessem um desjejum antes de enxaguar a boca com carboidratos, ou de beber uma solução de carboidratos? Assim, descobriram que os carboidratos não surtiam efeito nenhum.

Enquanto isso, neurocientistas descobriram que cérebros de roedores, pelo menos, respondiam a carboidratos em suas bocas independentemente de sua resposta ao doce.

São os carboidratos que importam, e por isso os adoçantes artificiais não estimulam esses caminhos que levam da boca ao cérebro.

Em seguida, Bridge e seus colegas de Birmingham usaram imagens funcionais de ressonância magnética para determinar se a glicose, que tem o sabor doce, teria o mesmo efeito no cérebro que a maltodextrina, de carboidratos sem sabor.

Eles também testaram adoçantes artificiais para comparar.

Os resultados de exames do cérebro confirmaram os resultados do estudo de exercícios: carboidratos ativam áreas do cérebro envolvidas com recompensas e atividade muscular.

Os adoçantes artificiais, não.

Enxágue para todos?

Quanto a aplicação se tornar uma regra para todas as modalidaes esportivas e atletas, Scott J. Montain, pesquisador de exercícios do Instituto de Pesquisa em Medicina Ambiental do Exército dos EUA, acha que isso não é possível. Ele diz que o efeito é real, mas acrescentou que "competidores de resistência se sairão melhor simplesmente consumindo as calorias".

Dessa forma eles obtêm o combustível de verdade, em vez de "bochechar e dispensar um cuspe caro e pegajoso".

Jeukendrup e Bridge, porém, dizem usar eles mesmos o truque do enxaguante bucal.

"Você percebe um benefício", disse Bridge.Mas ele aponta que, num estudo, os atletas não sabem se estão recebendo carboidratos ou não. "Quando você sabe que o está tomando", explicou, "então há uma chance de ocorrer o efeito placebo".

New York Times News

Fonte: Portal da Educação Física.

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